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Toggle1 – Introdução
Grande parte do conhecimento sobre a voz que é utilizado hoje provém do cultivo dos saberes construídos ao longo da história. Desde as primeiras especulações sobre a produção vocal com Hipócrates, na Grécia Antiga, passando pelo surgimento da laringologia com Cláudio Galeno, pelo resgate das teorias de Aristóteles na Idade Média, pelos experimentos visionários de Leonardo Da Vinci até o surgimento do laringoscópio com Manuel Garcia e seus reflexos para as ciências vocais contemporâneas. Esta trajetória também se entrelaça com as artes vocais, em especial o canto lírico, sendo este um dos grandes responsáveis por cunhar termos como “registros vocais”, “voz de peito”, “falsete”, dentre outros encontrados desde os primeiros tratados sobre canto da Idade Média (VON LEDEN, 2002; GÜTHS, 2020).
Todavia, diversos autores apontam que as terminologias usadas para descrever os fenômenos vocais, especialmente aquelas que tiveram sua origem no canto, são imprecisas e inconsistentes, o que gera um problema para descrever os fenômenos vocais (ZANGGER et al., 2003; BRIXEN; SADOLIN; KJELIN, 2013). Sundberg (2018) diz que as pesquisas sobre voz têm como objeto central de estudo o chamado Belcanto, porém, que muitas vozes fogem dos padrões estéticos almejado por esse estilo. O fato de as artes vocais terem originado parte do tratamento das disfonias insere, ao menos parcialmente, as imprecisões e inconsistências terminológicas, herdadas do meio artístico, na terapêutica da voz e, por consequência, na fonoaudiologia (BEHLAU; GAMA; CIELO, 2014).
Para que seja possível compreender a origem de certos conceitos presentes nas ciências vocais contemporâneas faz-se necessária uma investigação sobre a história da voz. Todavia, uma vez que muitos desses conceitos estão relacionados às práticas vocais artísticas, como o canto, por exemplo, essa investigação histórica deve ser feita através de um olhar antropológico e filosoficamente reflexivo, para que seja possível analisar não só a origem e a evolução desses conceitos ao longo dos séculos, mas, também, como o ser humano se relacionava com eles em diferentes períodos da história e quais significados sociais e culturais lhes eram atribuídos e/ou estavam submetidos. É dizer, não basta listar a cronologia dos acontecimentos. É preciso conhecer as teorias e motivações que levaram ao surgimento de tais conceitos.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo fazer um levantamento, através de pesquisa bibliográfica, dos principais termos usados para descrever a voz humana ao longo dos séculos, lançando um olhar crítico-filosófico sobre os cenários onde estes surgiram, bem como dos principais representantes desse processo, para que seja possível compreender, de forma panorâmica, as origens dessas terminologias e suas implicações para as ciências vocais contemporâneas.
2 – Uma Revisão Histórica dos Conceitos Sobre a Voz Humana
2.1 Antiguidade
As primeiras especulações com a intenção de conhecer e entender a produção da voz ocorreram na Grécia Antiga. No século V a.C., Hipócrates (460-377 a.C.), em sua obra Corpus Hippocraticum, diferencia aspectos como clareza, estridência, rouquidão, dentre outras qualidades vocais, fazendo uso, também, de informações para o diagnóstico e prognósticos de problemas vocais. Ele especulou que a traquéia e os pulmões possuem um papel fundamental na produção da voz, enquanto que os lábios e a língua estavam relacionados com a articulação dos sons da fala, porém, ele não diferenciou a articulação de vogais e consoantes. Os termos “faringe” e “laringe” eram tratados como sinônimos em sua obra (VON LEDEN, 2002).
Diferente de Hipócrates, Aristóteles (384-322 a.C.) postula que vogais e consoantes eram articuladas de formas diferentes. A descrição da produção vocal de Aristóteles pode estar relacionada com o conceito de catarse (katharsis). A tragédia de Édipo Rei de Sófocles (2012) expressa o exemplo perfeito do que Aristóteles, em sua obra Poética (2008), chamou de “catarse”. A ideia de catarse está ligada ao conceito de purificação, purgar e/ou limpar. No sentido aristotélico, está ligado à purificação da alma. É importante considerar que, para Aristóteles, a alma estava localizada no coração e nos pulmões (VON LEDEN, 2002). Em seus estudos, Aristóteles observou que havia uma relação entre o ar que vinha dos pulmões e a produção vocal (fonação). Logo, se a alma habitava os pulmões (que continham ar) e o ar dos pulmões resultava na voz, por consequência, a voz era, nas palavras de Aristóteles, “o espelho da alma” (NOGUEIRA JÚNIOR et al., 2007).
Esta localização da alma, existente no pensamento aristotélico, pode estar ligada à ideia de catarse, uma vez que ele postula na Poética (2012) que a linguagem na tragédia “se serve da ação e não da narração” para seu embelezamento. Podemos entender, dessa forma, que a catarse está ligada à ação não-verbal que causa no público emoções ― aqui pode-se ligar a ideia da alma localizada no coração e nos pulmões, uma vez que os estados emocionais causam mudanças em nossos batimentos, no rítmo respiratório e, por consequência, comportamentais ― criadas pelos intérpretes que imitavam a realidade ou, no caso de Édipo Rei, pelo próprio desenrolar da dramaturgia. Ora, se a arte é simples imitação de coisas fenomênicas (mimese), como dizia Platão, como poderia ela causar, então, um efeito verdadeiro no público? Reflexões como esta podem ter sido o motivo para a oposição de Aristóteles ao pensamento de Platão em relação às artes, o que nos é sugerido, inclusive, pelo título de sua obra, uma vez que poésis significa fazer, criar, produzir, fabricar. Assim, a ideia de catarse estaria ligada à poésis das emoções em Aristóteles, sendo a obra de Sófocles um exemplo perfeito deste processo.
Outro grande nome que marcou os estudos sobre a voz na antiguidade foi Cláudio Galeno (129-199 ou 217 d.C). Galeno descreve as principais cartilagens e músculos da laringe tendo como base o aprendizado prático provindo do atendimento a gladiadores feridos na época. Em suas descrições, porém, ele identifica as cartilagens aritenóides como uma única cartilagem, possivelmente devido ao precário armazenamento e aos processos de decomposição dos corpos usados para dissecação na época. Ele também identificou a laringe como o órgão responsável pela produção da voz, chamando-a de Principalissimum Organum Vocis (PINTO, 2011; BEHLAU et al., 2013). Em seu livro De uso partium, VII, 5, Galeno postula:
“a traqueia prepara e pré-arranja a voz para a laringe… (as cartilagens) ampliam a voz que é ainda mais ampliada pela forma arqueada da garganta, que age como uma placa de ressonância”. (VON LEDEN, 2002, p.15)
Descrições sobre a indicação de pastilhas para cantores e atores que sofriam de inflamações na laringe também são encontradas em seus trabalhos, o que sugere que Galeno tinha interesse e/ou proximidade com as artes vocais da época. Cláudio Galeno é considerado o pai da laringologia e padrinho da foniatria, bem como das ciências vocais, tendo escrito mais de 300 livros — dos quais apenas 120 chegaram até os dias atuais — e dominado os conhecimentos médicos por mais de quinze séculos, além de ter sido um grande intelectual de seu tempo (VON LEDEN, 2002; PINTO, 2011; BEHLAU et al., 2013).
2.2 Idade Média e Renascença
Adentrando no período da Idade Média, onde a produção filosófico-científica torna-se serva da teologia, podemos destacar as contribuições de pontífices como papa Gregório I que era extremamente interessado nas práticas do canto e influenciou amplamente a difusão do Canto Gregoriano, o qual recebeu seu nome como homenagem. Esse estilo surge a partir de influências da civilização greco-romana (e de suas línguas, grego e latim); de tradições célticas, como cantar longos poemas; e de tradições judaicas orientais, como a recitação melódica dos textos. O cantar estava intimamente ligado ao latim, pois tinha como base os textos bíblicos, sendo executado em missas e para ofício divino. Os conhecimentos e práticas de canto que se tinham nessa época (e antes dela também) eram transmitidos de forma oral. Logo, muitos dos ensinamentos se perderam e/ou foram modificados ao longo do tempo (CEREDA & JOSÉ NETO, 2018).
Algumas indagações feitas por teólogos da Idade Média tinham a voz e a fala como ponto central. Dentre elas, duas são bastante importantes para a história da voz. São elas: “Como Deus fala?” e “Anjos e/ou diabos falam?” (VON LEDEN, 2002). No período da escolástica, Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.) teve importante papel na conciliação entre fé e razão, influenciando o pensamento da época, além de ter feito o resgate dos trabalhos de Aristóteles (ENGELMANN & TREVISAN, 2015). Alguns estudos sugerem que Jerônimo de Morávia (1250-1304? d.C) tenha sido um seguidor de Tomás de Aquino (CANNON. 1936). Morávia fez grandes contribuições no uso da Viela, antecessora do violino, e sua principal obra foi o Tractatus de Musica. Pouco se sabe sobre sua vida, mas há indícios de que ele era um mestre em música pela Universidade Sorbonne (Paris, França) e foi, juntamente à João de Galandia (1193-1270 d.C.), um dos responsáveis pela origem do termo “registros vocais”, após comparar as mudanças no timbre da voz em regiões específicas com o Órgão Aerofone (ou de Tubos) (CANNON, 1936; BEHLAU et al., 2013; THURMAN et al., 2014).
Em um Órgão Aerofone, cada sequência de tubos produz um timbre específico, visto que os tubos são fabricados com formas, medidas e materiais semelhantes. Como não havia tecnologia para visualização laríngea na época, as sensações corporais (sinestesia) foram o principal recurso para a investigação e sistematização dos registros vocais. Desta forma, Vox Pectoris (voz de peito) estava relacionada com as sensações vibratórias na região do osso esterno, no peito; Vox Capitis (voz de cabeça) causava vibrações na região da fronte (testa), bem como nas laterais e na parte do topo do crânio; e Vox Gutturis (voz de garganta ou “gutural”), a qual foi interpretada como uma voz que causava sensações entre a Vox Pectoris e a Vox Capitis, sendo, portanto, localizada na região do pescoço, visto que ele está entre o peito e a cabeça. Essa nomenclatura estava relacionada com a região tonal onde cada sensação corporal se apresentava. A região mais grave estava associada às vibrações no peito e a mais aguda às vibrações na cabeça, estando a região média entre essas duas (THURMAN et al., 2014).
O resgate do pensamento de Aristóteles no período escolástico, não só influenciou o pensamento filosófico do período, como também na formação intelectual de teóricos musicais renascentistas como Gioseffo Zarlino (1517-1590), que postulou, em sua obra Le Istitutione Harmoniche que a voz era “repercussão do ar respirado na artéria vocal” — la Voce è repercussione di aria respirata all’arteria vocale (ZARLINO, 1562. Cap. 10, p. 77) —, indicando uma relação forte com o pensamento aristotélico da produção vocal inspirada na alma, a qual era localizada no coração e nos pulmões. Segundo Von Leden (2002) a conexão entre a laringe e o coração era um conceito amplamente difundido na Idade Média, o que influenciou o olhar sobre a voz durante todo o período. Ele destaca as contribuições de dois professores que defenderam teorias guiadas pela relação entre coração e laringe. O primeiro deles é Johannes Peyligk (1474-1522), de Leipzig, Alemanha, que sugeriu que o sistema vocal era uma derivação do coração e que havia uma artéria (chamada “vocalis arteria” ou “vocalis arterea”) de grandes medidas que se inseria na região laríngea (fig 1.1). O segundo é Johannes von Ketham, professor de Medicina em Viena, que, em sua obra Fasciculus Medicinae (1493), apresenta em um de seus desenhos uma estrutura chama “artéria traqueal” (“trachea arteria”) que conecta o coração diretamente à garganta (fig 1.2).
É importante ressaltar que Galeno já havia apontado a laringe como órgão responsável pela produção da voz no século II d.C., sendo que seus trabalhos dominaram o campo da medicina até o século XVII aproximadamente (PRISTON 2013). Isso sugere que tanto os trabalhos de Zarlino, com a voz na música, quanto os trabalhos de Peyligk e de Ketham, com a voz na medicina, sofreram influências do resgate das teorias de Aristóteles feito por teólogos da Idade Média, como Tomás de Aquino. Como Aristóteles havia postulado que “a voz é o espelho da alma”, sendo a alma localizada, por ele, no coração e nos pulmões, a ideia da existência de uma “artéria vocal” ou “artéria traqueal” sugere essa influência, além do aparente desconhecimento por parte de tais autores daquilo que Galeno, séculos atrás, chamou de Principalissimum Organum Vocis, responsável pela produção da voz humana.
Concomitantemente neste período da Renascença, Leonardo Da Vinci (1452-1519) fez detalhados desenhos da laringe e descrições da pronuncia dos sons fala. Ele dissecou mais de 30 cadáveres por Florença, Roma e Milão, o que possibilitou a obtenção de valiosas informações sobre a anatomia, fisiologia e patologia da voz humana. Para investigar a produção da voz humana, Da Vinci apertou os pulmões de um ganso com a intenção de produzir sons a partir da laringe do animal. Este experimento só foi repetido em 1741 por Antoine Ferrein, o que demonstra o quão visionário Da Vinci foi para sua época. Ele também descreveu as estruturas da boca, lábios, dentes e relacionou essas estruturas com a produção dos sons da fala, designando termos fonéticos específicos para sistematizar e diferenciar cada sons investigado. Infelizmente sua obra Quaderni d’Anatomia, onde se encontravam grande parte de suas contribuições acerca da voz humana, ficou desaparecida por três séculos, sendo reencontrada inexplicavelmente em 1784 na biblioteca da English Royal House. Ainda na Renascença, posterior a Da Vinci, o trabalho de Andreas Vesalius (1514-1565), intitulado De Humani Corporis Fabrica, trouxe novos desenhos das cartilagens da laringe e apontou erros nos trabalhos de Galeno, como, por exemplo, a correção de que existiam duas cartilagens aritenóides ao invés de uma única, como Galeno postulou (fig.1.2) (VON LEDEN, 2002; GÜTHS, 2020). As críticas de Jacques du Bois, da Universidade de Paris, sobre os trabalhos de Vesalius demonstram como os trabalhos de Galeno ainda dominavam os conhecimentos médicos da época:
“Se existem diferenças entre certas estruturas como as vistas por Vesalius e as descritas por Galeno, o corpo humano deve ter mudado nesse intervalo de 1200 anos.”(VON LEDEN, 2002, p. 42).
2.3 Modernidade Pós-Renascimento
É importante ressaltar que todas essas contribuições antecedem os trabalhos de René Descartes (1596-1650), em especial sua obra O Discurso do Método, a qual inaugurou a filosofia moderna e construiu as bases para as ciências modernas e contemporâneas. A eixo central do racionalismo de Descartes estava na dúvida hiperbólica, isto é, no duvidar e questionar a realidade de tudo, pois só assim seria possível alcançar o conhecimento sobre algo. O único ato verdadeiro do qual é impossível duvidar é o pensamento, pois para duvidar dele próprio é necessário pensar, o que torna a razão o objeto a ser seguido para se alcançar o conhecimento. Deste raciocínio surge a máxima de Descartes: “cogito, ergo, sum” (Penso, logo, existo). Descartes apontou que os sentidos humanos não eram confiáveis para a produção do verdadeiro conhecimento e, por isso, para uma construção sólida do conhecimento, as hipóteses deveriam ser testadas para sua verificação, análise, síntese e enumeração dos resultados (ENGELMANN & TREVISAN, 2015; SILVA, 2017). Através do racionalismo de Descartes, os trabalhos de Galeno, Da Vinci e Vesalius podem ser validados, inclusive as correções Vesalius sobre a obra de Galeno. Neste mesmo sentido, as teorias de Zarlino, Peyligk e Ketham, que sugeriam que a produção da voz ocorresse através de uma artéria “vocal” ou “traqueal” são, por consequência lógica, invalidadas. Os registros vocais, em contrapartida, uma vez que tiveram sua origem e sistematização baseadas nos sentidos humanos (sensações físicas e auditivas), tornam-se uma teoria não-cartesiana, sendo, portanto, uma teoria empírica.
Um dos principais representantes do empirismo foi David Hume (1711-1776), que defendia que o conhecimento era resultado da experiência, pois, para ele, o conteúdo da mente humana nada mais é do que um amontoado de percepções. Assim, os sentidos e a experiência permitem ao ser humano combinar, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que absorvem, possibilitando o pensamento humano e limitando-o, também, à experiência sensível, uma vez que não é possível pensar em algo que nunca foi sentido ou experienciado (SILVA, 2017). É desta forma que pode-se entender como Garlandia e Morávia, na Idade Média, transpuseram para a voz humana a experiência do órgão aerofone, justificando a origem empírica dos registros vocais.
Os registros vocais foram um grande tema de discussão e divergência entre os teóricos musicais que tratavam do canto na Modernidade, pois além das diferenças na quantidade de registros da voz humana, discutia-se também quais deles deveriam ser usados para o “bem-cantar”. A problemática dos registros vocais na Modernidade pode ser encontrada no canto desde antes dos trabalhos de Descartes. A ideia de “voz falsa” ou “falsete” (voce finta), por exemplo, foi usada pela primeira vez por Giulio Caccini (1551-1618), um cantor e compositor italiano de renome, o qual dividia a voz em voce piena ou naturale (“voz plena” ou “natural”) e voce finta. Contemporâneo à Caccini, Lodovico Zacconi (1555-1627) dividia a voz de forma semelhante à Garlandia e Morávia, sendo voce di petto (voz de peito), voce di testa (voz de cabeça) e voce mezzane (voz média ou intermediária). Tanto Caccini quanto Zacconi consideravam a voz de peito como “natural” por esta não apresentar “falsidade” em sua produção (GÜTHS, 2020).
É possível questionar se a ideia de uma voz “falsa” — o que implica na existência de um oposto, isto é, uma voz “verdadeira” — tem raízes nas teorias de Zacconi sobre ligação entre o coração e a voz pela artéria vocal, bem como no resgate das teorias aristotélicas novamente. Esta ligação pode estar justamente no fato de que o oposto da voz “falsa” é a voz de peito, especialmente em Caccini, o qual traz a ideia de uma produção vocal falsa. Esta oposição, quando ligada à ideia de plenitude, naturalidade e veracidade da produção vocal, aponta para a ideia aristotélica de que “a voz é o espelho da alma”, sendo importante a localização da alma no coração e nos pulmões. Desta forma, uma voz “verdadeira” deveria vir do coração ou da alma. Consequentemente, para ser “verdadeira”, a voz deveria ser produzida no peito e, portanto, aquela voz que era produzida na cabeça não poderia ser verdadeira pois ela não vinha do coração ou da alma, sendo, desta forma, uma voz falsa. O componente religioso nesse raciocínio pode ser sugerido pelos trabalhos de Tomás de Aquino e Jerônimo de Morávia, bem como pelo próprio ambiente onde a música era ensinada durante a escolástica — a saber: o Quadrivium (PEINADO, 2012).
Outras divisões e classificações dos registros vocais surgiram na segunda metade do século XVII. O cantor Pier Francesco Tosi (1647-1727), um dos primeiros Castrati conhecidos a escrever sobre o canto, divide a voz em dois registros (voce di petto e voce di testa) e postula que os cantores devem fazer uso de ambos. Nesta mesma época, Giovanni Battista Mancini (1714-1800), outro Castrato de grande renome, também divide a voz em dois registros da mesma forma que Tosi, porém, postula que determinados cantores eram hábeis em cantar, por toda sua extensão vocal, no registro de peito (AUGUSTIN, 2012). Esse relato torna evidente que os registros vocais, durante a Modernidade, passaram a representar não mais regiões tonais específicas, como proposto na Idade Média por Morávia e Garlandia, mas sim, qualidades vocais específicas, isto é, estão relacionados com a estética sonora da voz.
Concomitante às obras de Tosi e Caccini, Antoine Ferrein (1693-1769) postulou o termo cordas vocais após comparar o som da voz humana ao som das cordas de um violino. Alguns anos depois, o anatomista francês Exupère-Joseph Bertin (1712-1781) corrige o apontamento de Ferrein e publica o termo pregas vocais (VON LEDEN, 2002; NOGUEIRA JÚNIOR, et al., 2007). Em sua obra Lettres sur le nouveau système de la voix et sur les artère lymphatiques Bertin escreveu:
“As duas bordas da glote […] apenas formam as duas pregas de uma membrana elástica muito forte […] Não podemos, portanto, dizer que elas formam duas fitas ou duas cordas reais […] Essas duas pregas ou bordas da glote estão unidas uma à outra na cartilagem tireóide. Elas se afastam uma da outra à medida em que avançam na direção das cartilagens aritenóides; suas extremidades só podem ser aproximadas pelo movimento dessas cartilagens.” (BERTIN, 1748, p. 28 a 30, tradução nossa).
Notavelmente, os trabalhos no campo da voz cantada começaram a se desenvolver de forma paralela às ciências médicas desde a Renascença (GÜTHS, 2020). A bifurcação entre esses dois campos tem seu início com os trabalhos de Zarlino, Peyligk e Ketham quando comparados aos de Da Vinci e Vesalius. O auge dessa separação pode ser observado quando os trabalhos de Ferrein e Bertin são comparados aos de Tosi e Caccini. Em ambos os casos, tanto no canto quanto nas ciências médicas, as tecnologias disponíveis não permitiam a visualização in vivo das pregas vocais para que observações mais detalhadas sobre o funcionamento da voz pudessem ser feitas. A primeira visualização do funcionamento das pregas vocais em um sujeito vivo aconteceu em 1816, quando Ludwig Mende presenciou um paciente com um corte na região do pescoço após uma tentativa de suicídio (VON LEDEN, 2002). Entretanto, dadas as circunstâncias, as possibilidades de investigação eram demasiadamente limitadas.
2.4 Pós-Modernidade e Início da Idade Contemporânea
A primeira pessoa na história a conseguir visualizar com sucesso as pregas vocais de um indivíduo vivo foi o professor de canto Manuel Garcia (1805-1906). A carreira de cantor de Garcia perdeu forças quando sua voz foi acometida por problemas resultantes do uso excessivo. Em 1829 ele passa a se dedicar exclusivamente ao ensino do canto com o objetivo de prevenir que outros cantores viessem a sofrer com problemas semelhantes aos seus. Sua obra completa sobre canto foi publicada em 1847 com o título Traité complet de l’art du chant. Garcia se tornou um renomado professor de canto já na primeira metade do século XIX, porém, sua maior contribuição para o campo da voz foi, sem dúvidas, a visualização das pregas vocais in vivo através do uso de um espelho de dentista em 1854. Através do espelho e com a ajuda da luz solar, Garcia conseguiu observar os movimentos das pregas vocais durante a fonação, primeiramente em sua própria voz e, posteriormente, em outros cantores. Em março de 1855 ele apresentou os achados de suas observações para a Royal Society of London em seu trabalho intitulado Observations Physiologiques Sur la Voix Humaine. Suas contribuições lhe renderam o status de inventor do laringoscópio e precursor da laringologia (URBINA & TRULLÉN, 2006).
Garcia influenciou extremamente as ciências vocais contemporâneas, tanto no canto quanto nas ciências médicas. Entretanto, outro acontecimento que marcou os trabalhos de Garcia foi a inserção das terminologias usadas na pedagogia vocal cantada nos campos das ciências médicas. Esta inserção pode ser justificada devido ao processo de estudo e formação de Garcia terem ocorrido dentro do ambiente da voz cantada da época, o que implica em dizer que o olhar lançado por ele, para descrever e explicar os fenômenos vocais apresentados em seu trabalho Observations Physiologiques Sur la Voix Humaine, teve como eixo central os conhecimentos do canto e não das ciências médicas. A influência do canto pode ser observada em trechos de seu trabalho, como este:
“Deixem-nos observar aqui, que três registros da voz são geralmente admitidos — peito, falsete e cabeça. O primeiro começa mais grave na voz de homens do que na voz de mulheres; o segundo se estende igualmente entre ambas as vozes; o terceiro é mais agudo em na voz feminina.” (GARCIA, 1855. p. 25, tradução nossa).
Desta forma, observa-se que tanto o conceito de registro vocais é trazido para as ciências médicas, como, também, a própria divisão dos registros da voz apresentados por Garcia difere daquelas postuladas por Garlandia e Morávia, Caccini, Zacconi , Tosi e Mancini. Cabe ressaltar, também, que os registos vocais na obra de García apresentam semelhanças como aqueles propostos por Garlandia e Morávia, os quais indicavam regiões tonais específicas, porém, também apresentam semelhanças com aqueles propostos por Tosi e Mancini, os quais indicavam estéticas (timbres) diferentes da voz. Também é importante notar que a ideia de voz falsa (falsete), presente nos trabalhos de Caccini e Zacconi, está presente na obra de Garcia, porém, ele não trata esse conceito como sinônimo de voz de cabeça como outros autores, diferenciando, portanto, ambos como diferentes registros e descrevendo-os como “mecanicamente idênticos, diferenciados apenas pelo timbre” (HENRICH, 2006). A divisão dos registros vocais de Garcia pode ser observada na imagem 1.3 (pag 25).
O século XIX trouxe enormes avanços para o campo do saber científico que influenciam fortemente a ciência e a filosofia contemporânea. As obras do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) são exemplos deste processo. Nietzsche foi um grande crítico da civilização ocidental no que diz respeito aos seus valores e conceitos. Isto é, ele critica as bases na qual as civilizações ocidentais se fundamentam. Tais críticas passam pelas obras dos gregos antigos, pelo cristianismo, o racionalismo de Descartes, bem como a moral e as ciências como um todo. Para ele, o ser humano é um ser que venera os ídolos que este mesmo constrói, sendo esses ídolos os conceitos e verdades absolutas que comprometem a razão deste ser. Nietzsche postula que o mundo moderno era moldado pelo conteúdo ético da religião cristã e que criticar a modernidade não poderia deixar de ser, também, uma crítica da moral e da religião. Suas críticas à religião o fizeram ser conhecido como “o filósofo que anunciou a morte de Deus”, além, claro, de colocar em evidência as influências da igreja e da Europa sobre todo o pensamento ocidental. Segundo ele, a própria ciência não sabia o significado da morte de Deus, pois a crença positivista em uma verdade absoluta conferia à ciência uma espécie de laicização da crença religiosa, tendo a verdade absoluta no lugar de Deus (GIACÓIA JÚNIOR, 2000; NIETZSCHE, 2017).
Ao se considerar os questionamentos feitos por teólogos durante a Idade Média — como, por exemplo, “como Deus fala?” —, que grande parte do desenvolvimento da arte do canto, no ocidente, deu-se afastado das ciências médicas e dentro do ambiente religioso (em especial a Igreja Católica), e que o trabalho de Manuel Garcia, no século XIX, introduziu nas ciências médicas diversas terminologias da tradição do canto, torna-se evidente que as críticas de Nietzsche acerca da influência religiosa e européia nas ciências se aplicam, também, às ciências da voz. A presença desta influência na área da voz pode ser observada nas respostas de perguntas como:
- O que é uma voz ideal?;
- Como imaginamos a voz de Deus?
- Teria, Deus, problemas de fala?
Para esta última pergunta, a concepção de Deus oferecida pelo catolicismo, disseminada no ocidente, sugere que Deus não poderia ter problemas de fala, pois seu próprio filho, Jesus Cristo, teria o poder de curar tais problemas, como descrito em Marcos, 7:32-34. Para responder às outras duas questões, é importante refletir sobre as referências vocais que se tem no ocidente ao se pensar em uma “voz ideal” ou na “voz de Deus”. Poderiam ser essas vozes, uma voz ruidosa? Talvez anasalada? Com ressonância laringofaríngea (Vox Gutturis)? Ou seria ela mais semelhante à voz de um Tenor?
Reforçando as ideias de Nietzsche, Michel Foucault aponta, no século XX, para o apoderamento dos discursos teológicos por parte das ciências, em especial na medicina. Nas palavras de Foucault: “A medicina define não somente o que é anormal e o que não é, mas, por fim, o que é lícito ou ilícito, criminal ou não criminal, o que é abuso ou prática maligna” (FOUCAULT, As grandes funções da medicina em nossa sociedade, 1972 apud FREITAS, 2020, p. 187).
3 – Implicações para as Ciências Vocais Contemporâneas
Diversos autores (DINVILLE, 1993; BEHLAU et al., 2010; GUSMÃO; CAMPOS; MAIA, 2010; SUNDBERG, 2018) fazem comparativos das características da voz tendo cantores treinados, em canto erudito, como patamar ideal de comparação. Esse patamar é indicado por afirmações que sugerem que estes cantores possuem “dinâmica e qualidade vocal agradáveis” e “projeção vocal adequada” (GUSMÃO; CAMPOS; MAIA, 2010), uma vez que esses adjetivos são extremamente subjetivos — Afinal, agradáveis para quem?; Adequada em comparação ao quê?. Desta forma, é importante para as ciências vocais refletir se seriam os cantores eruditos (tenores, por exemplo), comumente citados em pesquisas como patamar “ideal” de voz — o qual serve como referência para delimitar os “bons” e os “maus” padrões vocais —, uma espécie de ídolo (no sentido nietzscheano) das ciências da voz?
Somada às ideias de Nietzsche, é importante considerar que as sistematizações metodológicas do canto se desenvolveram em um ambiente histórico onde o foco principal da voz estava voltado para seu uso na música (européia) e não para sua descrição como fenômeno da natureza. Logo, elas são, por consequência, limitadas aos estilos musicais onde surgiram, sendo incapazes de descrever fenômenos vocais externos à ela, seja na voz cantada e/ou falada.
É importante salientar que os conhecimentos vocais apresentados aqui são, quase em totalidade, saberes cultivados pela visão ocidental do mundo, a qual tem tido a Europa como grande centro ao longo dos séculos. Segundo Güths (2020), pode-se observar três cenários onde os conhecimentos sobre a voz humana se desenvolvem em um cenário histórico: o das ciências médicas; o das artes vocais; e o das práticas ocultas. As ciências médicas, desde Hipócrates, dedicaram-se ao estudo da anatomia, da fisiologia e das patologias vocais majoritariamente. Durante a Idade Média ocorreu a separação entre as ciências médicas e as artes vocais, especialmente o canto. As artes vocais, então, dedicaram-se à busca pelo aperfeiçoamento de determinados ajustes vocais, tendo o canto como principal expoente. Essa busca resultou, principalmente, naquilo que hoje se conhece como Bel Canto. Paralelamente às ciências e as artes vocais, encontram-se as práticas ocultas, as quais englobam diversas práticas humanas que se desenvolveram fora do eixo europeu — o que significa a europa e todos os países que se guiam por ela — ou que foram repreendidas pela religião, ciência e/ou cultura deste mesmo eixo. Dentre as práticas ocultas podemos encontrar artes como o ventriloquismo, atrelado à crenças ritualísticas em muitos casos; medicinas alternativas como a Ayurveda e a Medicina Tradicional Chinesa; e conhecimentos de nível popular, geralmente rotulados como bruxaria, superstição e/ou rituais sobrenaturais. Apesar de sua existência, os registros e documentos acerca da voz nas práticas ocultas podem ser considerados escassos e, em muitos casos, aparecem fragmentados em textos antigos ou sugeridos por passagens religiosas.
A importação para as ciências médicas de termos e conceitos desenvolvidos no trajeto histórico das artes vocais tem causado problemas para as ciências vocais contemporâneas. Brixen, Sadolin e Kjelin (2013) apontam que:
“A terminologia usada para descrever a qualidade da voz cantada permanece problemática. Termos como “voz de peito”, “voz de cabeça”, “voz mista” são amplamente usados mas não definitivamente precisos […] Outros exemplos de terminologias insuficientemente definidas amplamente usadas para descrever a voz cantada são: projeção, colocação, voz natural, falsete, voix mix, voz focada, cantar na máscara, etc.” (BRIXEN; SADOLIN; KJELIN, 2013).
Morner, Fransson e Fant (1963) encontraram mais de 107 termos usados para identificar os registros vocais em materiais de pedagogia vocal cantada de diferentes países, mesmo após excluírem pequenas variações de um mesmo termo ou traduções simples de um idioma para o outro. Apesar disso, o número de pesquisas que se dedicam a descrição e “organização” das terminologias dos registros vocais tem sido frequente até os dias atuais, como observado nos trabalhos de Hollien (1974), Henrich (2006), Behlau et al. (2013) e Herbst (2020), a título de exemplo. Neste mesmo sentido, Sundberg (2018) diz que ainda hoje não se conseguiu encontrar uma boa definição para registros vocais. Ele também destaca que:
“A maioria das pesquisas em voz se dedica à descrição e à explicação do assim chamado belcanto. Existem, em contrapartida, muitas vozes que não necessariamente se enquadram nesses padrões estéticos.” (SUNDBERG, 2018. p. 281).
Assim, é notável que o entrelaçamento histórico entre o canto e as ciências médicas, ocasionado pelos trabalhos de Garcia (1855), trouxe para as ciências vocais contemporâneas problemáticas conceituais e terminológicas originadas na Renascença que cruzaram a Idade Moderna e chegaram até Manuel Garcia, como já descrito nos itens 2.2, 2.3 e 2.4 deste trabalho. Esse entrelaçamento ganha ainda mais relevância pelo fato de as artes vocais, como o canto, terem dado origem a grande parte do tratamento atual das disfonias (BEHLAU; GAMA; CIELO, 2014). Desta forma, ao mesmo tempo em que trouxeram contribuições importantes para o entendimento e o uso da voz humana, tanto à nível artístico como à nível de tratamento dos distúrbios da comunicação, a carência de rigor científico nas artes vocais gera confusões terminológicas e conceituais para a compreensão da voz.
A limitação do olhar para com fenômenos vocais que não se enquadram nos padrões vocais estabelecidos pelo Belcanto também é outro problema presente nas ciências vocais contemporâneas em grande medida (SILVA, 2015). Sobre as vozes distorcidas encontrada em cantores de rock, por exemplo, sugere-se que:
“Estes cantores necessitam de tensões e constrições laríngeas, com qualidade vocal que pode ser intensamente desviada, áspera ou rouca, por vezes tensa e comprimida” (PECORARO et al., 2010).
Anos antes, em contrapartida, Titze (1998) apontou para a presença de distorções vocais em fenômenos como no choro de bebês. Seria possível classificar o choro de um bebê como uma voz “desviada”? Como os padrões do Belcanto classificariam a qualidade vocal do choro de um bebê? Zangger et al (2003) ressalta que os estilos vocais não-clássicos (como o Belcanto) merecem maior atenção dos pesquisadores, especialmente por muitos estilos, como o rock, utilizarem produções vocais consideradas “não-saudáveis”. Outros autores também defendem a necessidade ampliar as pesquisas neste sentido (BRIXEN; SADOLIN; KJELIN, 2013; SILVA, 2015; SUNDBERG, 2018; GÜTHS, 2020).
4 – Considerações Finais
As ciências vocais, dada sua característica interdisciplinar, carregam, até os dias atuais, questões histórico-culturais implicadas no surgimento de determinados termos e conceitos. O olhar histórico apresentado neste trabalho, ainda que panoramico, permite observar a influência do catolicismo, do eurocentrismo e do empirismo pré-cartesiano em termos amplamente usados na contemporaneidade, como é o caso dos termos “registros vocais”, “voz de peito”, “voz de cabeça”, “falsete” e “voz natural”, para citar alguns. Os problemas resultantes do uso frequente desses termos por parte das ciências vocais têm sido apontados por diversos autores ao longo das últimas duas décadas. A limitação do olhar para com fenômenos vocais externos aos padrões estabelecidos pelas artes vocais também tem sido apontada e se estende para o campo das terapias vocais, uma vez que o tratamento das disfonias teve parte de sua origem nas artes vocais. É necessário, portanto, que o cultivo de tradicionalismos e crenças vocais, possivelmente importados das artes vocais, seja investigado de forma ampla.
Neste sentido, a filosofia torna-se uma importante aliada das ciências vocais contemporâneas, uma vez que a atitude crítico-filosófica visa indagar os “comos?”, os “por quês?” e os “o quês?” , em vários níveis da sociedade e do conhecimento humano, desvendando suas possíveis origens e sentidos para, então, validar e/ou invalidar determinados saberes. Para tanto, é necessário colocar em suspeição todo e qualquer conceito e/ou terminologia que possa abrir margem para a interpretação subjetiva, seja ela ligada à crenças religiosas, tradicionalismos ou não.
Assim, com base no exposto deste trabalho, é preciso questionar: Os registros vocais são fenômenos naturais? Até onde as ciências vocais contemporâneas foram/estão “contaminadas” por conceitos e crenças de tradições não-científicas acerca da voz? Como podemos diferenciar o conhecimento tradicional do conhecimento científico no campo das ciências vocais? A influência do canto tradicional tornou as ciências vocais contemporâneas eurocêntricas? Isto é, a ideia de “voz boa” ou “voz saudável” seria aquela herdada pelas tradições européias? Podemos, hoje, falar em uma História da Voz Cantada? Ou quando falamos em “história do canto” nos referimos à história de um tipo de canto especificamente? Conhecemos a história de cada estilo de canto? Desta mesma forma é necessário questionar o próprio entendimento contemporâneo de voz. O que é voz? Só há voz se houver vibração das pregas vocais? Quais são os limites da voz? A voz é natural?
5 – Referências
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