O timbre é uma das três características físicas do som (frequência, intensidade e timbre). Quando falamos em timbre de voz, estamos falando de algo que é fácil de perceber, porém, difícil de explicar muitas vezes. Isso porque o timbre da voz pode ser modificado por diversas manobras vocais.
Essas manobras podem acontecer na fonte sonora (laringe e pregas vocais), no filtro sonoro (trato vocal) ou nos dois ao mesmo tempo (fonte e filtro sonoros). Aliás, muitos especialistas dirão que toda modificação de timbre é feita pela fonte e o filtro juntos, uma vez que não é possível separá-los na prática, apenas em teoria.
De uma forma ou de outra, temos sempre que ter em mente que a ciência está sujeita à mudanças conforme novas descobertas e evidências são encontradas e, por isso, o que entendemos como timbre de voz hoje também pode vir a mudar nos próximos 10 anos, por exemplo. Esse é o modo no qual a ciência opera e, por isso, é importante você buscar atualizações constantemente.
Por meio deste texto eu quero te apresentar algumas estratégias que vão te ajudar a modificar o seu timbre de voz de maneira saudável e versátil.
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Toggle“Timbre: uma característica única da sua voz”
Durante séculos se afirmou que o timbre de voz era uma característica única da voz de cada sujeito e, portanto, seria impossível ou, no mínimo, um erro “gravíssimo” imitar o timbre de outra pessoa. No entanto, nos últimos 40 anos, as Ciências Vocais têm mudado essa perspectiva e, atualmente, já se demonstrou que é possível uma pessoa modificar o timbre da própria voz de diversas formas sem que isso impacte na saúde da sua voz. Para dubladores, atores e imitadores, isso sempre pareceu bastante óbvio, afinal, mudar o timbre da própria voz é algo corriqueiro na vida desses profissionais.
Mas por quê não era óbvio para as Ciências Vocais já que estamos falando de “ciência”? Porque as bases das Ciências Vocais tiveram suas raízes no Bel Canto Italiano — ou Ópera, Canto Lírico, Canto Erudito, Canto Clássico, como você preferir — uma vez que essa foi uma das únicas escolas de canto que produziu materiais (livros, tratados, partituras, etc) a respeito de “como cantar”. Porém, para essa escola, a variação do timbre da voz ao longo de um espetáculo era visto como um erro técnico e, por este motivo, manter um timbre fixo na voz era um dos indicativos de que o cantor tinha uma “boa técnica”.
Esta foi uma das razões pelas quais os cantores populares foram considerados como “sem técnica” durante boa parte do século XX (1901-2000). Até hoje alguns profissionais carregam essa crença de que estudar “sério” é estudar canto lírico.
Por onde começar a mudar o timbre da voz?
A primeira coisa que você precisa saber para entender como mudar o timbre da sua voz é que a nossa voz está dentro de um tubo. Então, quando as pregas vocais produzem o som (lá na laringe, a fonte), esse som é conduzido por todo um filtro de tubos (o trato vocal, o filtro) que, dependendo da forma como eles estão organizados, vão modificar esse som que foi produzido pelas pregas vocais. Ou seja, no fundo, nós estamos falando sobre ondas sonoras dentro de tubos — sim, igual nas aulas de Física do ensino médio.
O primeiro exercício que você pode fazer é um exercício de percepção. Pegue alguns tubos e tente falar alguma coisa dentro de cada um deles. Um balde (grande, pequeno, médio), uma garrafa pet, um cano de PVC, uma caneca ou uma jarra de suco são boas opções para você começar. Você vai notar que dentro de cada um desses tubos o som vai ter um timbre diferente. Ou seja, o jeito como o som “se parece” (a “cara” do som) para os nossos ouvidos vai mudar.
Mudando o Timbre da Voz no Trato Vocal
Do mesmo jeito que os tubos, o timbre da voz funciona da mesma forma, a diferença é que a voz já tem o seu próprio sistema de tubos (o trato vocal). A boa notícia é que você já modifica o timbre da sua voz todos os dias, talvez só não tenha controle sobre essas mudanças.
O timbre da sua voz muda quando você boceja, quando sente nojo, quando está com sono, quando sente raiva, quando sente medo, quando fica com aquele nó de choro na garganta e em várias outras situações. O que você precisa fazer agora é aprender a controlar essas mudanças de timbre, para que você consiga usar elas à seu favor sempre que quiser.
Comece com algumas mudanças simples. O bocejo, o nojo e o nariz entupido são boas escolhas para começar. Pegue um texto curto ou uma canção e tente pronunciar tudo bocejando, isto é, com os tubos do trato vocal bem aumentados — viu como tem relação? — Depois repita o mesmo texto ou canção com uma voz de nojo ou com nasalidade exagerada, se preferir. A ideia é fazer os tubos do trato vocal diminuírem de tamanho — pense sempre nos tubos! — Por fim, faça o mesmo buscando uma voz com nariz entupido.
Conforme você sentir facilidade em fazer essas três manobras, você pode começar a adicionar outras e treinar com outros tipos de textos ou canções.
Mudando o Timbre da Voz nas Pregas Vocais
As pregas vocais, ou “cordas vocais” como muita gente diz, também são responsáveis por mudar uma parte do timbre da voz. Na verdade, esse é o grande desafio dos profissionais da voz nas artes. No canto, por exemplo, os cantores tentam colocar soprosidade, brilho, leveza e, também, distorções na voz — os famosos Drives Vocais — como estratégias para modificar o timbre da voz.
É claro que dominar todas essas possibilidades exige tempo, dedicação e muito treinamento. Mas você pode começar com algo bastante simples, como vazar um pouco de ar na sua voz — como se estivesse com fraqueza ou cansaço —, falar com uma voz de sono (aquela que tem um pouco de ruído, sabe?) ou ainda, colocar brilho, clareza, metálico, nitidez na voz.
Você pode treinar essas estratégias do mesmo jeito que você fez com as estratégias dos tubos antes, ou seja, com textos e canções. Além disso, depois que você conseguir fazer algumas dessas manobras com facilidade, você pode começar a misturar as mudanças do trato vocal com as mudanças das pregas vocais.
Explore as possibilidades da sua Voz
Aprender a modificar o timbre da voz é um estudo para a vida inteira. Quanto mais você conhecer as possibilidades da sua voz, mais controle você terá sobre os timbres e sobre quando usar cada timbre também. Portanto, vá além da simples tarefa de “memorizar sons”. Aprenda sobre anatomia, fisiologia, psicodinâmica (o impacto que a sua voz causa nos outros) e tecnologias que você pode usar para alavancar o seu treinamento vocal.
Para ajudar você nesse processo, eu separei alguns vídeos do meu canal no YouTube, o canal Voice Lab para você assistir. Esses vídeos vão te ajudar tanto a conhecer mais sobre a sua voz quanto a aprender a produzir novos timbres. É só clicar e conferir!